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Em Decisão do Copom sem Novidades, Trump e Tarifaço Viram Destaque

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Quase um “não-evento”. Foi assim que Daniela Lima, economista-chefe para Brasil da Kinea, definiu a decisão de política monetária do Banco Central brasileiro na noite de ontem, que manteve a Selic estável em 15% ao ano. Mas nem por isso ele foi isento de novidades. 

Em meio a frases e palavras que são quase como velhas conhecidas dos economistas e investidores brasileiros, uma novidade: “O Comitê tem acompanhado, com particular atenção, os anúncios referentes à imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza”. 

Poucas horas antes, o governo de Donald Trump havia oficializado uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras — com uma gorda listas de exceções. Ainda assim, havia grande expectativa sobre a forma que o colegiado liderado por Gabriel Galípolo lidaria com mais uma fonte de incerteza no radar. 

“Normalmente, o BC só incorpora no cenário-base pontos que já são consumados e, até aquele momento, era apenas uma especulação com alta probabilidade de se concretizar”, aponta a economista. “Imaginávamos que ele fosse colocar algo reforçando a cautela perante tamanha incerteza. Eu diria que essa foi a principal novidade, com o resto vindo em linha com o cenário do BC”. 

Embora o tarifaço esteja dominando as manchetes, Lima vê pouco espaço para que os impactos econômicos advindos da prática venham a alterar o plano de voo do BC. Para ela, o BC foi apenas cauteloso: sem dar um peso muito grande ao momento, mas sem descartar que ele está no cenário.  

Em conversa com a Forbes Brasil após a decisão, a economista da Kinea também falou sobre os desafios fiscais do país e o que esperar para os próximos encontros do Comitê. 

Confira os melhores momentos da conversa abaixo. As respostas foram editadas para maior concisão e clareza. 

Qual a primeira leitura desta decisão?

Daniela Lima: Esse Copom não teve tantas novidades. Foi um “não-evento” em termos de precificação de mercado, por vários motivos. Primeiro: a decisão já estava telegrafada, então a gente já sabia que o BC ia manter os juros e tinha poucas dúvidas do que ele ia escrever no comunicado. Praticamente uma cópia do que foi o da última decisão, com palavras e frases bem parecidas. 

A gente já esperava que ele fosse rolar o horizonte do quarto trimestre de 2026 para o primeiro trimestre de 2027. De uma forma geral, não houve mudanças em relação à reunião passada nas projeções econômicas. Todos esperávamos por isso porque o BC acabou de parar o ciclo de alta e no comunicado anterior ele sinalizou que ficaria com uma taxa de juros elevada em nível restritivo por período bastante prolongado. De lá para cá não aconteceu nenhuma mudança significativa para uma possível mudança, apenas sinais mais visíveis de desaceleração da atividade — e eles reconhecem isso no texto. 

Você acredita que, caso tenhamos essa situação do “tarifaço” permanente por um longo período de tempo, o BC pode mudar a sua postura?

Antes de falar sobre a possível reação do Banco Central a essa tarifa, vale dar um passo atrás e entender qual deve ser o impacto dessa medida americana sobre a economia. E aí acho que podemos dividir essa análise em duas partes: o impacto macroeconômico — ou seja, na atividade e na inflação — e o impacto nos mercados.

Do ponto de vista econômico, na nossa visão, o impacto é limitado. Há várias exceções: o óleo, por exemplo, não foi tributado, e alguns produtos, como o café, ainda podem ser redirecionados para outros mercados mesmo com a tarifa. Por isso, o efeito sobre a produção doméstica tende a ser pequeno. Algo em torno de 0,2% do PIB no horizonte de 12 meses.

Sobre a inflação, o ponto central é entender como o mercado vai reagir a essa tarifa. O impacto inflacionário depende tanto dos bens produzidos nos EUA e vendidos aqui quanto da possibilidade de escalada da medida. E aí entra a questão: o governo brasileiro vai reagir ou não?

No primeiro momento, com o anúncio da tarifa, havia o risco de uma escalada por parte dos dois governos: o Brasil poderia retaliar, e o Trump, por sua vez, poderia intensificar as medidas, inclusive com ações para além do campo econômico. Mas o cenário que está se configurando e que é o nosso cenário base é de que o governo brasileiro provavelmente não vai retaliar, especialmente porque a decisão dos EUA surpreendeu positivamente, com diversas exceções incluídas.

Com a ausência de retaliação por parte do Brasil, a chance de uma escalada por parte dos EUA também diminui. Nesse ambiente, o câmbio — que é uma variável-chave para o Banco Central ao avaliar impactos inflacionários — tende a se manter mais comportado. 

Como não esperamos uma depreciação relevante do real, os impactos também devem ser contidos. O que pode haver são efeitos específicos em alguns produtos que têm dificuldade para serem redirecionados para outros mercados — como é o caso das carnes, que desde o anúncio da tarifa pelo Trump têm visto uma queda de preços no atacado, o que traz um efeito desinflacionário para o varejo e, por consequência, para o índice de inflação como um todo.

Dado esse cenário, entendemos que não há necessidade de o Banco Central reagir a essa nova medida do Trump em relação ao Brasil.

O comunicado menciona que o cenário exige uma política monetária contracionista por um longo período de tempo. Para vocês, o que contempla esse período? 

Se estivermos certos no nosso cenário, esse período mais prolongado se estende até dezembro ou março do ano que vem. Por quê? Já observamos sinais de desaceleração da atividade, e acreditamos que esses sinais vão se intensificar ao longo do tempo. Projetamos um PIB praticamente estável no segundo semestre, com crescimento de 0,1% no terceiro trimestre em relação ao segundo, seguido de uma queda de 0,3% no quarto trimestre.

Diante desse cenário, temos hoje uma inflação que desacelera gradualmente. Tivemos uma inflação elevada no passado, mas nossa projeção é que este ano feche em torno de 4,7% e que no ano que vem fique muito próxima de 4,2%. Ou seja, o juro real vai subindo com o tempo.

Na nossa visão, ainda será um ciclo em que os juros continuarão em patamar restritivo. O BC não deve cortar os juros dos 15% diretamente para o nível neutro. Eles seguirão restritivos porque a inflação ainda está acima da meta e as expectativas seguem desancoradas. O BC tende a fazer esse ajuste de forma gradual. 

No primeiro semestre, as questões fiscais ficaram em segundo plano, ganharam peso menor no debate (e no Copom), mas seguem existindo. Como vocês enxergam isso?

Temos problemas fiscais importantes e relevantes que precisam ser enfrentados. A dívida pública está crescendo em uma trajetória insustentável no longo prazo. Não há, nesse horizonte mais amplo, qualquer sinal de convergência dessa dívida. Esse é um problema que precisa ser endereçado com urgência. Além disso, lidamos com um orçamento extremamente engessado, em que as despesas obrigatórias representam mais de 90% do total.

A carga tributária já é muito elevada, e a população não aceita mais aumentos. O Congresso, que reflete essa mesma população, também não aprova novas elevações de impostos. Portanto, vamos ter que enfrentar essa questão fiscal de forma séria em algum momento, e isso não deve demorar.

Mas esse debate ainda não está em pauta. E a razão é simples: temos uma eleição se aproximando. Em 12 a 14 meses, o país vai às urnas. Nesse cenário, desde que o governo atual não rompa completamente com as regras fiscais em busca de reeleição, o mercado tende a dar um peso menor para essa questão fiscal de curto prazo. Isso porque há uma percepção de que, independentemente de quem assumir em 2027, esse problema precisará ser resolvido. Ou o próximo governo se dispõe voluntariamente a enfrentar a questão, ou o mercado, perdendo a paciência, vai exigir prêmios tão altos que o governo acabará forçado a agir. Dito isso, vale destacar que, depois de tudo que aconteceu em novembro do ano passado e em abril deste ano, o governo acabou surpreendendo positivamente em alguns pontos.

Hoje, qual é o maior ponto de atenção do balanço de riscos do Copom?

O Brasil continua sendo uma grande fonte de riscos. Temos hoje um governo norte-americano bastante radical, que gera ruído e volatilidade nos mercados globais. Isso acaba provocando incertezas, não apenas direcionadas ao Brasil, mas incertezas globais em relação ao ambiente de investimentos. Certamente esse é um elemento presente no balanço de riscos do Banco Central, atuando como um fator de preocupação para o horizonte de política monetária.

Não é um risco exclusivamente brasileiro, mas que chega até nós pelos canais de mercado, especialmente por meio da incerteza que se transmite aos ativos financeiros. E o principal canal de reação do Banco Central diante disso é o câmbio.

Outro fator de risco relevante, sem dúvida, é o fiscal. Como comentamos, o governo até aqui não tem dado sinais de que vá romper com as regras fiscais em busca da reeleição. Mas esse risco existe. Já vimos em outros momentos governos deteriorarem a situação fiscal a tal ponto que isso compromete severamente a governabilidade futura. 

Hoje, o problema fiscal já exige soluções complexas e uma repactuação ampla. Se houver uma expansão fiscal descontrolada, a resolução desse problema se torna ainda mais difícil.

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